olhar versus sorriso
Sempre gostei de observar o mundo à minha volta, sobretudo as pessoas, e desde que comecei a entusiasmar-me pela actividade do sketching noto claramente que tudo começa no olhar.
Olhar com olhos de ver é um requisito necessário para melhor registar no papel e guardar na memória.
Olhar com olhos de ver carece de atenção plena, e essa concentração meditativa tem um efeito terapêutico, zen.
Também é o olhar que distingue o fotógrafo.
O olhar da Gioconda, tal como o sorriso, é especial. Os seus olhos fixam os nossos mas, ao invés de transmitir qualquer tensão, parecem compassivos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Desvendar a Mouraria em Lisboa

Imaginando-me turista, entrei na Mouraria por uma ruela estreita atrás do Centro Comercial construído recentemente junto à Ermida de Nossa Senhora da Saúde do século XVI.

O bairro deve o nome aos mouros que aqui ficaram confinados quando a cidade lhes foi conquistada por D. Afonso Henriques, o Rei fundador de Portugal, no ano de 1147.
Inicialmente fora das muralhas e virado a norte, de costas para o Tejo, manteve, ao longo dos séculos, um carácter periférico.

Foi, em tempos, um bairro marginalizado e mal frequentado, com problemas de pobreza, exclusão social, prostituição e tráfico de drogas, mas nestes últimos anos tem vindo a ser regenerado e a abrir-se para os visitantes.






Ao percorrer as ruas medievais constato como a sua configuração aproxima os moradores e mantém o espírito de vizinhança. 
As pessoas convivem na rua, nos largos, sentadas nas ombreiras das portas ou à janela.
Com um forte sentido comunitário e, orgulhosas da sua herança histórica, são genuinamente inclusivas.
Aqui residem muitos indianos, chineses, brasileiros, russos ou de outros países de leste e árabes, mas a maior comunidade estrangeira é do Bangladesh.
E são deles a maioria das novas lojas e restaurantes com que me deparo ao avançar pelas ruelas sinuosas.

Há também projectos artísticos e culturais que dinamizam os residentes neste bairro.
Os largos e as ruas estão repletos de arte urbana, seja em instalações ou em pinturas murais.



É incontornável referir o Fado pois foi aqui que ele nasceu com a Maria Severa, a primeira e emblemática fadista, ainda no século XIX.



Daqui são também o Fernando Maurício, a Amália Rodrigues e até a fadista actualmente mais famosa, a Marisa, cresceu neste bairro de Lisboa.

Em todo o lado, em toda a hora se sente a sua presença, como na exposição em forma de tributo, dos Retratos de Fadistas.
À noite canta-se o fado, ao vivo, em várias casas e restaurantes.

De raízes populares, influências árabes na musicalidade e cheio de simbolismos românticos nos poemas e quadras, o Fado é já considerado Património Imaterial da Humanidade.





NOTA : Este post é uma edição melhorada, penso eu, do texto que escrevi como exercício prático no Workshop de Escrita de Viagens em que participei no mês passado.



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