olhar versus sorriso
Sempre gostei de observar o mundo à minha volta, sobretudo as pessoas, e desde que comecei a entusiasmar-me pela actividade do sketching noto claramente que tudo começa no olhar.
Olhar com olhos de ver é um requisito necessário para melhor registar no papel e guardar na memória.
Olhar com olhos de ver carece de atenção plena, e essa concentração meditativa tem um efeito terapêutico, zen.
Também é o olhar que distingue o fotógrafo.
O olhar da Gioconda, tal como o sorriso, é especial. Os seus olhos fixam os nossos mas, ao invés de transmitir qualquer tensão, parecem compassivos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Soneto da Separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Morais 
Setembro 1938





quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Desejo e inibição

Abro o caderno, pego na caneta e, disfarçadamente, deixo o desejo vencer a inibição de desenhar pessoas sem que elas se apercebam do meu atrevimento.

Para já só pretendo desenhá-las com alguma proporcionalidade.

Não espero sequer que fiquem parecidas com o modelo. 
Basta que um ou outro traço revele alguma semelhança humana.

Como desenho a caneta, tenho de aceitar os erros e aspirar a que da próxima vez consiga melhorar.

Preciso de praticar muito, muito mesmo!









quarta-feira, 23 de novembro de 2016

MAC - Museu Arqueológico do Carmo

Fui no sábado passado, e tenciono voltar mais vezes, ao Museu Arqueológico do Carmo para assistir a uma das oficinas "Vamos desenhar com..." organizadas pela Associação Urban Sketchers Portugal.

O Museu encontra-se no espaço da antiga Igreja e Convento do Carmo, parcialmente destruídos no terramoto de 1 de Novembro de 1755 e no consequente incêndio.
Houve várias fases de reconstrução mas no século XIX, por influência do Romantismo, foi decidido não reconstruir o resto do edifício.

O fantástico efeito cénico das ruínas revela-se, afinal, uma indubitável valorização do espaço.


         


          

O tempo não foi suficiente para ver tudo.

Para além dos desenhos que fiz no âmbito da apresentação e do desafio lançado pelo Luís Frasco, partilhados no post anterior, ainda fiz mais estes.

A estátua de D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431) Condestável e mordomo-mor do reino, uma das homenagens ao fundador da Igreja do Carmo.



E ainda, um sketch da maqueta de reconstituição da Igreja e Convento do Carmo, em exposição no museu. 




terça-feira, 22 de novembro de 2016

Desenhar com... Luís Frasco

Uma visita ao Museu Arqueológico do Carmo com apresentação e desafio de desenho de um Urban Sketcher profissional, desta vez, Luís Frasco.

Foi uma tarde de sábado muito bem passada no ambiente de convívio que eu tanto gosto. 
Revi pessoas que já me são queridas e tive oportunidade de conhecer mais.

Foi casa cheia e a apresentação do Luís foi muito interessante.
No final desafiou-nos a fazer uma composição de página nos seguintes moldes: desenho de detalhe + desenho de contexto + legenda ou logotipo.

Houve quem fizesse desenhos fantásticos.

Para mim foi um desafio difícil porque não sou muito boa a planear os desenhos. Por vezes tenho visões que acabam por não caber no caderno e confesso que me dispersei porque o museu e todo o espaço é maravilhoso.



Durante a apresentação não resisti a rabiscar. 
Ando mesmo obcecada em conseguir desenhar pessoas por isso tenho de ir praticando. 
O Luís que me desculpe o embaraço mas, para a minha falta de jeito, até não está mal de todo. 
Calma! Não tem pretensões a ser um retrato.






domingo, 20 de novembro de 2016

Calçada Portuguesa e Chiado

Símbolo de identidade nacional, a Calçada Portuguesa, é a designação do revestimento artístico que utiliza tradicionalmente pedras calcários brancas e pretas, para pavimentação de passeios e praças.

Originalmente de Lisboa, aperfeiçoada artisticamente no séc. XIX, depressa foi adoptada noutras cidades, nos países lusófonos, as ex-colónias portuguesas, e até em outras cidades do mundo foram requisitados mestres calceteiros para embelezar espaços pedonais e ensinar o seu ofício e a sua arte a estrangeiros.

Os motivos ou desenhos utilizados na Calçada Portuguesa são imensos, dos abstratos aos figurativos, e produzem efeitos surpreendentes nem sempre apreendidos pelos peões que as percorrem na sua azáfama diária.

Um dos padrões que mais gosto é o do Largo do Chiado. 
Embora de uma simplicidade geométrica o efeito global, visto de cima, é fantástico.




Fotografia seleccionada a partir das Imagens do Google




No centro ergue-se a estátua de António Ribeiro, o Poeta Chiado.

Nascido em Évora cedo abandonou a ordem Franciscana, mas nunca o hábito clerical, para viver celibatário em Lisboa, nesta zona da cidade, até morrer em 1591.

Em manuscritos, algumas publicações e num livro de miscelâneas foram encontrados vários autos, um pouco ao estilo de Gil Vicente, cartas e poemas jocosos e satíricos de sua autoria.
Mas a sua popularidade ficou dever-se sobretudo à capacidade de improvisar versos e de imitar virtuosamente as vozes e os gestos de diversas personagens conhecidas, encenando retratos da vida social da época.
Tendo em conta que a estátua de bronze, da autoria de Costa Motta (tio) sobre plinto em pedra de lioz de José Alexandre Soares, ali foi colocada pela vereação municipal em 1925, talvez esta seja uma imagem da Calçada Portuguesa original deste largo lisboeta.


Fotografia seleccionada a partir das Imagens do Google



quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Marionetas altamente rabiscáveis

A expectativa era grande, mas a realidade superou-a.

Fiquei encantada com a bela e representativa colecção de bonecos, cheios de teatralidade, que encontrei no Museu da Marioneta em Lisboa.

Num encontro dos Foto&Sketchers 2 Linhas, no passado domingo, não houve tempo nem espaço para tanta vontade de rabiscar os expressivos modelos.

Desde os típicos "Robertos", marionetas de luva, que me lembro de ver actuar com as suas vozes características na praia da Ericeira quando era miúda.





Até aos sofisticados bonecos protagonistas de filmes de animação portugueses bastante actuais.




Passando pelos exemplares antigos e históricos de vários pontos do mundo.



Todos pareciam ter uma emocionante história para contar.







segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Aldeia antiga com nova vida

Póvoa Dão é hoje uma aldeia turística, resultado de um projecto pioneiro de recuperação de uma aldeia medieval, com cerca de sete séculos, situada no concelho de Viseu e banhada pelo rio Dão.

Quando foi iniciada a reconstrução, em 1995, só uma casa era habitada por um casal.
As restantes, cerca de 30, estavam abandonadas e em avançado estado de degradação.

Além das casas disponíveis para o Turismo de Aldeia, também há casas particulares. 
Todas mantêm a traça beirã ancestral com paredes de blocos de granito, mas foram recheadas de conforto moderno.

Envolvida pela natureza, tem um percurso pedestre composto por quatro trilhos ao longo de aproximadamente seis quilómetros, onde os turistas e residentes podem passear descobrindo a biodiversidade da região.

Levaram-me lá, há uns anos, em passeio familiar domingueiro. 



Neste verão fui eu que lá levei a minha filha de férias, para lhe dar a conhecer mais um recanto do nosso maravilhoso país.

Foi numa tarde de muito calor e fomos atacadas por formigas gigantes que nos subiam pelas pernas e nos mordiam ferozmente.
Ainda assim conseguimos fazer alguns sketchsaguarelados posteriormente a salvo de qualquer investida animal.





quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Desvendar a Mouraria em sketchs

Lisboa é a cidade das sete colinas que reflecte a luz espelhada no rio Tejo.

Em cada miradouro há uma vista encantadora que revela as singularidades desta cidade nova e velha, o pitoresco e o arrojado moderno, os monumentos, a arquitectura, os jardins e os bairros históricos.

Não tendo o carácter boémio do Bairro Alto ou o charme chique do Chiado, a Mouraria é o bairro mais multicultural de Lisboa.



Depois de desvendar a Mouraria no âmbito de um exercício prático, no Workshop de Escrita de Viagens, fiquei com imensa vontade de lá voltar para a desenhar.

Coincidiu com a organização do encontro dos Foto&Sketchers 2 Linhas num final de tarde de "Rabiscos e Petiscos".




O ponto de encontro foi o Largo da Severa onde há tantos motivos interessantes para o sketching que quando demos por isso já estava a anoitecer e ninguém teve oportunidade de se afastar dali e explorar outras ruas.


Passámos de imediato à fase dos petiscos, desta vez sem mais rabiscos, porque o convívio e a conversa também são muito importantes.


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Desvendar a Mouraria em Lisboa

Imaginando-me turista, entrei na Mouraria por uma ruela estreita atrás do Centro Comercial construído recentemente junto à Ermida de Nossa Senhora da Saúde do século XVI.

O bairro deve o nome aos mouros que aqui ficaram confinados quando a cidade lhes foi conquistada por D. Afonso Henriques, o Rei fundador de Portugal, no ano de 1147.
Inicialmente fora das muralhas e virado a norte, de costas para o Tejo, manteve, ao longo dos séculos, um carácter periférico.

Foi, em tempos, um bairro marginalizado e mal frequentado, com problemas de pobreza, exclusão social, prostituição e tráfico de drogas, mas nestes últimos anos tem vindo a ser regenerado e a abrir-se para os visitantes.






Ao percorrer as ruas medievais constato como a sua configuração aproxima os moradores e mantém o espírito de vizinhança. 
As pessoas convivem na rua, nos largos, sentadas nas ombreiras das portas ou à janela.
Com um forte sentido comunitário e, orgulhosas da sua herança histórica, são genuinamente inclusivas.
Aqui residem muitos indianos, chineses, brasileiros, russos ou de outros países de leste e árabes, mas a maior comunidade estrangeira é do Bangladesh.
E são deles a maioria das novas lojas e restaurantes com que me deparo ao avançar pelas ruelas sinuosas.

Há também projectos artísticos e culturais que dinamizam os residentes neste bairro.
Os largos e as ruas estão repletos de arte urbana, seja em instalações ou em pinturas murais.



É incontornável referir o Fado pois foi aqui que ele nasceu com a Maria Severa, a primeira e emblemática fadista, ainda no século XIX.



Daqui são também o Fernando Maurício, a Amália Rodrigues e até a fadista actualmente mais famosa, a Marisa, cresceu neste bairro de Lisboa.

Em todo o lado, em toda a hora se sente a sua presença, como na exposição em forma de tributo, dos Retratos de Fadistas.
À noite canta-se o fado, ao vivo, em várias casas e restaurantes.

De raízes populares, influências árabes na musicalidade e cheio de simbolismos românticos nos poemas e quadras, o Fado é já considerado Património Imaterial da Humanidade.





NOTA : Este post é uma edição melhorada, penso eu, do texto que escrevi como exercício prático no Workshop de Escrita de Viagens em que participei no mês passado.



quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Foz do Arelho - uma das maravilhosas praias da costa portuguesa

Portugal é um país geograficamente pequenino, mas de uma imensa riqueza natural e cultural.

De norte a sul, a nossa costa tem tantas e tão diversas praias: pequenas ou com extensos areais, rodeadas por dunas, por falésias ou por rochas, ventosas ou abrigadas, de mar revolto ou de águas serenas, lindas ou lindíssimas.

Há algumas com características especiais, como a da Foz do Arelho.
No mesmo areal tem de um lado o mar, frio, com ondulação caprichosa e raramente com bandeira verde, e do outro lado o fim da lagoa de Óbidos, com água salgada um pouco menos fria, ondas incipientes, perfeita para nadar e para as crianças brincarem à vontade.

Foi aí que fiz este sketch com vista para a outra margem, o Bom Sucesso.


Esta região, nomeadamente a Foz do Arelho, Caldas da Rainha e Óbidos, tem muitos encantos.

Adoro dar uma escapadinha até lá, sobretudo no inverno (desde que não chova).





segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Escrita de Viagens

Em Agosto fiz um Workshop de Escrita de Viagens com o Filipe Morato Gomes que tem "Alma de Viajante".

A generosidade com que o Filipe partilha conhecimentos e experiência é contagiante e inspiradora.
O grupo, quase exclusivamente de mulheres, bem disposto e comunicativo também contribuiu para o sucesso do workshop.
Não há fórmulas mágicas que resolvam as dificuldades de cada um, mas as dicas de quem já tem alguns anos de prática são valiosas.

Talvez por defeito profissional, a minha tendência é escrever de forma objectiva e factual, mas gostava de conseguir exprimir-me melhor em palavras.
Escrever é um exercício que tenho vindo a fazer, mais nestes últimos anos, com a convicção de que tudo na vida se pode aprender, basta trabalhar para isso.
Basta não desistir.

No fundo gostava de ser uma boa contadora de histórias. 
É isso!



Quando recentemente fiz a minha primeira e ainda pequenina viagem sozinha, tive uma espécie de revelação.
Foi preciso sair da minha zona de conforto, enfrentar os meus receios e de repente perceber que tudo faz sentido.
Mais do que descobrir o resto do mundo, quero viajar para me encontrar.

Participar neste workshop foi muito além de receber ensinamentos para bem escrever e orientações para ser cronista ou blogger de viagens. 
Mais importante é entender como é possível fazer o leitor viajar connosco através de um texto que partilhe a verdadeira essência da viagem.

O Filipe contagia o mais incauto com a sua paixão pelas viagens.
Pessoalmente e nos textos inspiradores que escreve.
"Alma de Viajante" não é só um blog de guias turísticos, bem recheado de dicas e informações úteis para planear viagens. 
Posts como "Viajar para ser feliz" ou "Não tenhas medo de viajar sozinho" são tão assertivos e motivadores que qualquer alma pode ser imbuída de um espírito vagabundo.



terça-feira, 23 de agosto de 2016

Praia não é só mar, areia e sol

Fiquei fã da praia da Fonte da Telha.
No dia seguinte lá fui eu, outra vez, ter com a "primalhada".
Para meu grande espanto só estavam os adultos, muito descontraídos por sinal. 
As crianças e adolescentes tinham preferido ficar em casa por causa do acesso à Internet. É este o perfil da nova geração...

Pois para mim a melhor forma de superar um dia quente de verão é, precisamente indo para a praia. 
O mar estava óptimo. Perdi a conta da quantidade de banhos que tomei com prazer, nas límpidas e frescas águas atlânticas.

Fora de água, uns tempinhos ao sol outros à sombra, conversei, li, descansei, observei e rabisquei.



Também tirei algumas fotografias, poucas.



Acabei por ficar sozinha até mais tarde e apreciar o pôr do sol no mar.
É um dos encantos da costa portuguesa.






segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Eu gosto é do verão

Este ano o verão tardou, mas veio bem quente.
Até houve dias em que se atingiram mais de 40ºC. na zona de Lisboa, à sombra.
Aqui, estas temperaturas não são muito vulgares e as pessoas não se habituam, andam completamente esbaforidas à procura de lugares frescos, de preferência com ar condicionado.

Para mim a solução ideal é ir para a praia. E não me venham falar das águas quentes das praias tropicais porque, com este calor, o que sabe bem é o nosso mar atlântico para refrescar a valer.

Ia para São João da Caparica, a praia do costume logo ali ao virar da ponte, mas acabei por ir para a Fonte da Telha.
Assim, encontrei-me com três primos e seis primas, uma bela quota, que valorizaram altamente o meu dia.




Foi fantástico!
Além de pôr a conversa em dia, tomei excelentes banhos de mar e rabisquei umas cenas de praia.
Cenas com pessoas desconhecidas, claro!





sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Pôr-do-sol visto de Montemor-o-Novo

No regresso de Arraiolos, mesmo ao final do dia, parei e Montemor-o-Novo e subi ao castelo.
Têm sempre vistas privilegiadas, os castelos espalhados por este País.

Do lado nascente as sombras alongavam-se e estava a ficar frio, mesmo a pedir um agasalho.





Do lado poente o vento ainda era uma brisa tolerável. 

As cores quentes do pôr-do-sol iluminavam a paisagem com a sua magia.









Ali fiquei até o sol desaparecer no horizonte.
Sozinha, com o frio a entranhar-se na pele, pensando nas pessoas com quem gostaria de partilhar este momento, esta visão, esta beleza tranquila.
Esta vontade de seguir viagem...