olhar versus sorriso
Sempre gostei de observar o mundo à minha volta, sobretudo as pessoas, e desde que comecei a entusiasmar-me pela actividade do sketching noto claramente que tudo começa no olhar.
Olhar com olhos de ver é um requisito necessário para melhor registar no papel e guardar na memória.
Olhar com olhos de ver carece de atenção plena, e essa concentração meditativa tem um efeito terapêutico, zen.
Também é o olhar que distingue o fotógrafo.
O olhar da Gioconda, tal como o sorriso, é especial. Os seus olhos fixam os nossos mas, ao invés de transmitir qualquer tensão, parecem compassivos.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Prenúncio


Prenúncio               Miguel Torga - 1958


Na tarde calma, ondula
A invisível ramagem de um poema.
Uma secreta brisa,
Que apenas se adivinha,
Percorre o mundo íntimo das coisas
E acorda em sobressalto
as folhas do silêncio.
Falta ainda o poeta...
Mas a evidência
Da sua voz
É como a luz do sol quando amanhece:
De tão branca parece
Que descora a ilusão da madrugada...
Antes ele não viesse,
E em cada solidão, se mantivesse
Esta bruma da música sonhada.



Quando, há uns anos, partilhei este poema, a minha irmã observou que cada poeta tem momentos de luz pura em poesia.

Quem gosta e entende a poesia tem de ser um pouco poeta também.




quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Aquário Vasco da Gama em Algés - Encontro FS 2"

Há anos que não ía ao Aquário Vasco da Gama em Algés, desde que as minhas filhas eram crianças.

Relegado para segundo plano pelo grande Oceanário situado no Parque das Nações desde a Expo98, não perdeu a sua importância principalmente pela representação das espécies e pelas colecções patentes no museu.
Também se destaca a colecção oceanográfica do Rei D. Carlos I, um dos pioneiros mundiais no estudo da Oceanografia no final do século XIX e um forte apoiante da concepção deste espaço.

Foi no âmbito de um encontro organizado pelo grupo Foto&Sketchers 2" que lá voltei neste domingo, para desenhar e fotografar.

Primeiro fiquei fascinada por este aquário, os peixes, os corais e outros que tais, tanta vida colorida.





Mas foram os exemplares estáticos que eu consegui desenhar:







Para verem mais fotografias cliquem nos links Outros Seres Aquáticos e Peixes no Aquário.


FOTOS PUBLICADAS NO BLOG Foto e Sketchers 2" / PARTILHADAS NO BLOG sorriso de gioconda


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Quinta da Regaleira II mística com excentricidade


A Quinta da Regaleira foi concebida com uma intensa carga simbólica tanto nos pequenos detalhes arquitectónicos como nas construções só aparentemente naturais, de túneis, grutas e poços espalhados pelos jardins.


Os túneis subterrâneos são percursos que ora nos levam para becos sem saída, como nos elevam para outro patamar.




Os famosos poços conhecidos por Poços Iniciáticos ou Torres Invertidas são lugares acessíveis por alguns túneis escuros que nos levam às suas profundezas para admirarmos a luz no alto e permite, subindo as escadas espiraladas no seu interior, alcançar o topo como objectivo de chegar a um estado iluminado.



Imbuído de mistério e magia, a representação de um inferno dantesco, o mundo subterrâneo do qual se partia, num ritual iniciático, até atingir o paraíso num jardim harmonioso alinhado pela luz do conhecimento, da cultura e da arte.

A visão de um homem ou a inspiração de uma sociedade ou associação filosófica, iniciática que aspira ao aperfeiçoamento intelectual resultaram na construção deste espaço de uma beleza alegórica em todos os pormenores.


A simbólica viagem do interior obscuro cheio de dúvidas e questões para a luz da sabedoria é, para mim, a alegoria da viagem que cada um faz na vida.


Quinta da Regaleira I em Sintra


A pouca distância de Lisboa, encavalitada na Serra, com vista para o Mar, Sintra é uma vila muito especial.

Cativa os visitantes pelo encanto das suas histórias de reis e rainhas, palácios e castelos, jardins e florestas, das vielas, da serra e das praias.
Antigo retiro das cortes no verão, logo refúgio de escritores e poetas, pintores e amantes

A sua existência remonta a um tempo anterior ao próprio país, Portugal.

Bem no centro está o milenar Palácio Nacional de Sintra que começou por ser árabe, tal como o Castelo dos Mouros, e foi sendo ampliado e  embelezado desde o reinado de D. Dinis, destacando-se os revestimentos a azulejos e os elementos decorativos nas portas e janelas muito conhecidos pelo estilo manuelino, já no reinado de D. Manuel I.

Um dos mais excêntricos monumentos situa-se no termo do centro histórico da vila, na romântica e antiga Quinta da Torre outrora pertencente à Viscondessa da Regaleira, e foi construída na primeira década do século XX pelo milionário António Augusto Carvalho Monteiro com o génio criativo do arquitecto e cenógrafo italiano Luigi Manini, e outros artistas de grande mérito.

A Quinta da Regaleira em estilo predominantemente neo-manuelino e renascentista, diferencia-se tanto pela arquitectura do Palácio, os jardins de botânica exotica e árvores seculares, a capela e outros edifícios, mas sobretudo pelas fontes, terraços, grutas, túneis subterrâneos e poços que indiciam uma viagem mística e uma maçónica iniciação.




    



          



 


"Nestes domínios vislumbram-se referências à Mitologia, ao Olimpo, a Virgílio, a Dante, a Milton, a Camões, à missão templária da Ordem de Cristo, a grandes místicos e taumaturgos, aos enigmas da Arte Real, à Magna Obra Alquímica.
Esta sinfonia de pedra - cinzelada pelas mãos dos construtores de Templos imbuídos num verdadeiro espírito de Tradição - revela a dimensão poética e profética de uma Mansão Filosofal Lusa"
em www.cultursintra.pt


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Primeiros Encontros FS 2"

A minha prima Rita é uma Urban Sketcher.
Já fizemos algumas viagens juntas e sempre a vi desenhar, rabiscar - como ela diz, em Diários Gráficos. São cadernos onde se regista por meio de desenhos e palavras o que se observa, se sente, se ouve. Apontamentos que estimulam os sentidos e que mais tarde despoletam memórias.
Existe uma comunidade internacional de Urban Sketcher que promove encontros locais e workshops.

No verão passado, por iniciativa da Rita, criámos um grupo amador e informal - os Foto&Sketchers 2" (lê-se Foto e Sketchers Duas Linhas) com o intuito de organizar encontros para fotografar e desenhar/pintar e dessa forma explorar lugares junto às duas linhas de comboio Lisboa-Cascais e Lisboa-Sintra, Portugal.
Promovemos o alegre convívio e para participar não é preciso "saber" fotografar ou desenhar. 
Gostamos da partilha e as nossas regras e prioridades são simples. Para as conhecer basta aceder ao blog.

No primeiro mini-encontro que foi feito para discutir ideias e objectivos, tirei algumas fotografias à luz do fim da tarde, esta é uma delas. Sem filtros.
A réstia de calor do sol posto tinge de rosa o horizonte e apesar da luz difusa vê-se nitidamente a outra margem e o Farol do Bugio onde o Tejo se confunde com o Atlântico.
Para ver mais clicar aqui.





Uns dias depois voltámos a ter um encontro Foto&Sketchers 2" em Oeiras, desta vez com vista para o Forte de São Julião da Barra.
Agrada-me a luz quente dos finais de tarde solarengos.
Gosto particularmente desta fotografia em que o sol reflectido nos vidros parece um farol aceso. 
Para ver as outras clicar aqui.




FOTOS PUBLICADAS NO BLOG Foto e Sketchers 2" / PARTILHADAS NO BLOG sorriso de gioconda

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Um aniversário especial em Paris


Porquê algo especial para comemorar meio século?
Tenho uma amiga que fez uma tatuagem bem colorida, várias amigas que organizaram festas de arromba. Daqui a uns dias vou a mais uma dessas festas grandiosas.
Eu sonhei partilhar uma viagem a Paris com as minhas filhotas queridas e tornar esse meu aniversário uma memória inesquecível.


Alugámos um T0 no 9º. Arrondissement, perto de Montmartre, por quatro noites e daí partimos diáriamente a pé para ver tudo.
Era inverno mas tivemos sorte, não estava demasiado frio e quase não choveu.
Ao pequeno almoço não podiam faltar os croissants. Eu arranjava-me primeiro e ia comprá-los à boulengerie na esquina da Rue des Martyres.
Só o cheirinho que emanava dos pães, croissantes e patisserie diversa exposta nos balcões era uma inspiração matinal.







Apesar de ser época baixa nos sítios mais emblemáticos, Sacré-Coeur, Tour Eiffel, Notre-Dame, Museu du Louvre e Les Champs Élysées, os turistas proliferavam mas nas ruas em geral viam-se sobretudo residentes, pessoas nas suas rotinas normais de trabalho e escola dado que não era período de férias.
A cidade pareceu-me bastante cosmopolita com muita gente sobretudo do Norte de África e Médio Oriente.
Sem ser na Place Vandôme, onde se situam as grandes casas de alta costura, quase não vimos aqueles franceses típicos bem vestidos e elegantes.
A juventude é aparentemente igual à das nossas cidades portuguesas e europeias, são um estéreotipo formatado pelas séries televisivas e pelas cadeias de lojas de marcas com baixo preço que se propagam iguais por todo o lado.
Não achei a cidade própriamente limpa e os jardins, por ser Fevereiro, não estavam no seu esplendor.
As igrejas, principalmente as catedrais, chocaram-me pelo excessivo sentido comercial. Não é preciso pagar para entrar, como por exemplo na Sagrada Família em Barcelona, mas no seu interior existem demasiados dispositivos e máquinas que vendem velas, imagens de santos e medalhas alusivas, já para não falar no habitual balcão de souvenirs à saída. Não os senti como templos, apenas como monumentos históricos.
Em compensação nas voltas pela cidade encontrámos lojas de extremo bom gosto.

 


No dia dos meus anos fomos de comboio até Versailles. Começámos a visita pelos jardins porque de manhã a fila para entrar no palácio principal que eles chamam Chateau, era de muitas centenas de pessoas.
São imensos os jardins e bosques, diferentes áreas e construções, casas e museus como o Petit e o Grand Trianon, o Domaine de Marie Antoinette, retratos retalhados da monarquia francesa do século XVII.
Andámos quilómetros, visitámos Le Hameou de La Reine que era uma espécie de quinta, e percorremos a margem do Grand Canal onde até se pode passear de barco.



Almoçámos muitíssimo bem no restaurante La Flottille situado na zona de serviços no centro do parque. Com comida tradicional bem confeccionada, de realçar o pato confitado e o créme brulée, e um serviço rápido e simpático.
De tarde entrámos finalmente no grande e luxuoso Palácio de Versailles que muito me fez lembrar os nossos Palácios da Ajuda e da Pena, apenas de maiores proporções.




Para terminar em beleza um dia extraordinário, nessa noite fomos jantar a um restaurante ligeiramente mais requintado.
O vinho foi difícil de escolher por falta de referências e conhecimento dos vinhos franceses mas fizemos uma boa escolha graças ao atendimento atencioso que nos foi prestado.
Escolher os pratos e as sobremesas foi bem mais fácil e tudo se revelou um primor e uma delicadeza de sabores que fizeram render-me à cozinha francesa. Todos os pratos estavam deliciosos sobretudo a Tartelette au Citron com que me gratifiquei no final.
Não houve bolo de aniversário nem velas nem cantigas desafinadas mas fizemos um brinde especial e eu senti-me tão feliz e abençoada por ter comigo as minhas meninas, os maiores amores da minha vida.
Paris foi um sonho realizado e espero ainda cumprir mais uns quantos nos próximos anos.


PUBLICADO NO BLOG o doce nunca amargou / PARTILHADO NO BLOG sorriso de gioconda